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A pandemia na saúde mental do idoso.

19 de maio de 2021

Gabriela Rondão

Os idosos fazem parte do grupo mais acometido pelas complicações do novo coronavírus, são também muito afetados pelas consequências do isolamento e expostos, muitas vezes, ao idadismo; conceito este definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o estereótipo, o preconceito e a discriminação contra a pessoa, com base em sua idade. É preciso colocar o envelhecimento em pauta na nossa sociedade, para que possamos ressignificar a velhice. 

Alguns países em situação de escassez de recursos e de leitos, tomaram algumas medidas que expuseram a questão do idadismo: no auge da pandemia, alguns países adotaram práticas baseadas em critérios de idade, para tomar decisões de internação e de procedimentos em unidades de terapia intensiva. A contribuição dos conhecimentos adquiridos nos âmbitos da geriatria e gerontologia há várias décadas, no entanto, enfatiza a necessidade de utilização compulsória da avaliação geriátrica ampla como ferramenta fundamental para apoiar o processo decisório. Tal avaliação ocorre tendo em vista as possibilidades, comprovadas por evidências científicas, de estabelecimentos de parâmetros, algoritmos e modelos prognósticos, que vão muito além de critérios baseados exclusivamente nos valores, idade cronológica e presença de outras doenças. Portanto, a aplicação destes princípios  precisa ser melhor difundida e aplicada, para melhoria na saúde dos idosos. 

Os dados sugerem que a velhice por si só, especialmente para indivíduos com 65 anos ou mais, é um fator de risco para mortalidade relacionada à Covid-19, independente das doenças prévias e o índice de letalidade é ainda maior para pessoas com mais de 80 anos (13,4 % de todos os casos detectados). Mas parece que além dos estressores físicos, o distanciamento social pode impactar negativamente a percepção de bem-estar; o isolamento e a solidão têm sido associados a um aumento nas prevalências de doenças vasculares e neurológicas, e à mortalidade prematura. Sabe-se ainda que a exclusão social está significativamente associada a maiores riscos de comprometimento cognitivo, o que aumenta diretamente os riscos de demência  na doença de Alzheimer e sua progressão. 

Sabemos que a dependência aumenta com a idade – os adultos mais velhos frequentemente precisam de mais ajuda com suas finanças, atividades instrumentais e básicas de sua vida diária; em decorrência da diminuição de sua capacidade física, psíquica e funcional. A dependência acarreta numa maior complexidade dos processos, além de uma alta demanda de assistência e cuidados, aspectos que podem agravar ainda mais a vulnerabilidade deste grupo na situação atual de pandemia. 

Os idosos, que fazem parte do principal público-alvo da maioria das políticas de distanciamento social, devido ao alto risco de apresentarem complicações pela Covid-19, precisam de um apoio psicossocial mais forte, uma vez que muitos deles vivem em isolamento permanente, não possuem redes sociais e têm atividades sociais limitadas. O distanciamento social é uma medida protetiva necessária nas circunstâncias atuais, mas que em contrapartida leva muitos idosos à depressão, à disfunção cognitiva, à incapacidade funcional, às doenças cardiovasculares e, consequentemente, ao aumento da mortalidade. 

Será necessário o engajamento de todos para assegurarmos esperança, empatia, compaixão e cuidados personalizados para os idosos neste cenário, bem como políticas públicas eficazes para a assistência dos mesmos, tanto na comunidade como em casas de longa permanência. Muitos idosos, com maior autonomia e independência funcional, estão procurando ressignificar seu processo de envelhecimento, adaptando-se, por exemplo, aos desafios no uso de novas tecnologias para aproximar pessoas, resolver problemas pessoais, receber cuidados de saúde e lidar com a solidão.

fonte: Guia de Saude Mental pós-pandemia no Brasil, da Pfizer.

Gabriela de Faria Rondão | Psicóloga Clínica