Os idosos fazem parte do grupo mais acometido pelas complicações do novo coronavírus, são também muito afetados pelas consequências do isolamento e expostos, muitas vezes, ao idadismo; conceito este definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o estereótipo, o preconceito e a discriminação contra a pessoa, com base em sua idade. É preciso colocar o envelhecimento em pauta na nossa sociedade, para que possamos ressignificar a velhice.
Alguns países em situação de escassez de recursos e de leitos, tomaram algumas medidas que expuseram a questão do idadismo: no auge da pandemia, alguns países adotaram práticas baseadas em critérios de idade, para tomar decisões de internação e de procedimentos em unidades de terapia intensiva. A contribuição dos conhecimentos adquiridos nos âmbitos da geriatria e gerontologia há várias décadas, no entanto, enfatiza a necessidade de utilização compulsória da avaliação geriátrica ampla como ferramenta fundamental para apoiar o processo decisório. Tal avaliação ocorre tendo em vista as possibilidades, comprovadas por evidências científicas, de estabelecimentos de parâmetros, algoritmos e modelos prognósticos, que vão muito além de critérios baseados exclusivamente nos valores, idade cronológica e presença de outras doenças. Portanto, a aplicação destes princípios precisa ser melhor difundida e aplicada, para melhoria na saúde dos idosos.
Os dados sugerem que a velhice por si só, especialmente para indivíduos com 65 anos ou mais, é um fator de risco para mortalidade relacionada à Covid-19, independente das doenças prévias e o índice de letalidade é ainda maior para pessoas com mais de 80 anos (13,4 % de todos os casos detectados). Mas parece que além dos estressores físicos, o distanciamento social pode impactar negativamente a percepção de bem-estar; o isolamento e a solidão têm sido associados a um aumento nas prevalências de doenças vasculares e neurológicas, e à mortalidade prematura. Sabe-se ainda que a exclusão social está significativamente associada a maiores riscos de comprometimento cognitivo, o que aumenta diretamente os riscos de demência na doença de Alzheimer e sua progressão.
Sabemos que a dependência aumenta com a idade – os adultos mais velhos frequentemente precisam de mais ajuda com suas finanças, atividades instrumentais e básicas de sua vida diária; em decorrência da diminuição de sua capacidade física, psíquica e funcional. A dependência acarreta numa maior complexidade dos processos, além de uma alta demanda de assistência e cuidados, aspectos que podem agravar ainda mais a vulnerabilidade deste grupo na situação atual de pandemia.
Os idosos, que fazem parte do principal público-alvo da maioria das políticas de distanciamento social, devido ao alto risco de apresentarem complicações pela Covid-19, precisam de um apoio psicossocial mais forte, uma vez que muitos deles vivem em isolamento permanente, não possuem redes sociais e têm atividades sociais limitadas. O distanciamento social é uma medida protetiva necessária nas circunstâncias atuais, mas que em contrapartida leva muitos idosos à depressão, à disfunção cognitiva, à incapacidade funcional, às doenças cardiovasculares e, consequentemente, ao aumento da mortalidade.
Será necessário o engajamento de todos para assegurarmos esperança, empatia, compaixão e cuidados personalizados para os idosos neste cenário, bem como políticas públicas eficazes para a assistência dos mesmos, tanto na comunidade como em casas de longa permanência. Muitos idosos, com maior autonomia e independência funcional, estão procurando ressignificar seu processo de envelhecimento, adaptando-se, por exemplo, aos desafios no uso de novas tecnologias para aproximar pessoas, resolver problemas pessoais, receber cuidados de saúde e lidar com a solidão.
fonte: Guia de Saude Mental pós-pandemia no Brasil, da Pfizer.
Gabriela de Faria Rondão | Psicóloga Clínica