Tenha muito cuidado com o excesso de informações existente no momento atual, a velocidade da tecnologia da informação nos traz uma espécie de “asfixia”. As informações, muitas vezes, são fragmentadas e possuem uma carga emocional difícil de ser assimilada ou trabalhada. E, ainda, por muitas vezes carecem de embasamento e veracidade.
A possível saída é apontada por Alfons Cornellá, “desaprendo, logo existo”. O que não quer dizer deixar de se informar, mas ter clareza e discernimento para escolher que tipo de informação buscar. Cornellá diz que é fundamental que as pessoas aprendam a diferenciar “exaustividade (balaio onde cabe tudo) de “relevância” (o que é importante e mais interessante); com tanto ruído de informação fica cada vez mais difícil uma pausa para refletir, elaborar pensamentos e desenvolver ideias.
Infoxicação foi o termo criado, nos idos de 1996, pelo físico espanhol Alfons Cornellá para determinar a relação entre informação e intoxicação, um neologismo que explica a dificuldade em administrar a avalanche de informações pela qual somos bombardeados diariamente. Outro conceito relacionado com esse excesso é a síndrome da fadiga informativa, identificada pelo psicólogo britânico David Lewis, que acomete pessoas que lidam com o excesso de informação e acabam por sentirem-se paralisadas em sua capacidade analítica, ansiosas, cheias de dúvidas, com danos nas relações pessoais, mau humor, angústia, tristeza, instabilidade e baixa satisfação no trabalho.
A imunização, conforme Cornellá, está na decisão de “ler menos e com mais profundidade. Não ficar dentro de uma caverna em que só se escuta o que quer escutar, mas ter acesso a fontes contrastantes e, assim, criar tempo para entender o que se está lendo.”
O polonês Zygmunt Bauman, sociólogo, filósofo e um dos maiores pensadores do século 20, morreu aos 91 anos, em janeiro de 2017, e deixou um legado de pensamentos fundamentais para a humanidade. O professor ensinou: “Como expressou o grande biólogo E. O. Wilson, de forma sucinta e correta, ‘estamos nos afogando em informação e famintos por sabedoria’. Não temos tempo de transformar e reciclar fragmentos de informações variadas numa visão, em algo que podemos chamar de sabedoria.”. E Bauman ainda disse mais: “A tecnologia da informação é uma biblioteca de pedacinhos de fragmentos sem algo que os reúna e os transforme em sabedoria e conhecimento. Isso destrói certas capacidades psicológicas, como atenção, concentração, consistência e o chamado pensamento linear, quando você estuda um assunto de forma consistente e o esgota, vai até o fim”.
A sociedade do espetáculo, apregoada por Guy D’ebord no início de 1960 (escritor francês que teve seus textos como a base das manifestações do Maio de 1968), nos alertava para os perigos da presença exacerbada da tecnocultura em nosso cotidiano. “Quando as narrativas são transformadas em pequenos resumos, em manuais técnicos, os conteúdos sofrem reducionismo, impedindo ao leitor um mergulho no campo da reflexão”.
Gabriela de Faria Rondão | Psicóloga Clínica
Imagem: getty images