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Maneiras de aliviar o esgotamento provocado pela pandemia.

23 de setembro de 2021

Gabriela Rondão

A fadiga é uma das consequências mais incômodas e inesperadas da atual pandemia. Estamos esgotados. E por muitos motivos. Um deles é derivado da própria doença, como comprovou uma pesquisa feita na Irlanda no segundo semestre de 2020, metade das pessoas que tinham contraído covid-19 apresentavam sintomas de fadiga física severa até 10 semanas depois de receberem alta médica. O vírus esgota. Mas não ficamos exaustos apenas por nos infectarmos, o vírus nos esgota psicologicamente também.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) denominou de fadiga pandêmica o cansaço derivado do esgotamento gerado pela hipervigilância e pelo medo de um vírus que ninguém vê, mas todos sabemos que está aí, como explica Laura Rojas Marcos, doutora em psicologia clínica. Basta olhar os dados: O Escritório do Censo dos Estados Unidos faz um levantamento semanal sobre a saúde mental dos norte-americanos. No fim de novembro, 69% dos entrevistados declararam sofrer frequentemente sintomas de nervosismo, ansiedade ou a sensação de se encontrar no limite; no começo da pandemia, esta cifra se situava apenas em 25%.

A fadiga pandêmica ocorre por diversos motivos. Um deles é consequência da excessiva vigilância contra o vírus, o que estressa nosso sistema hormonal e endócrino de maneira constante, tornando-nos mais vulneráveis a certos transtornos, como a ansiedade e a depressão. Além disso, a situação econômica e a incerteza que vivemos estão criando um desgaste cumulativo, somado à privação de liberdade derivada do confinamento e o tédio envolvido: o indivíduo entra em colapso.

Temos um cérebro pandêmico. Não se trata de um termo clínico, mas é assim que alguns cientistas chamam a série de males que nosso cérebro está sofrendo como resultado da pandemia. O estresse crônico e os longos períodos de confinamento não afetaram apenas nossa capacidade de memória e concentração. Alguns especialistas acreditam que é possível que algumas áreas do nosso cérebro também tenham diminuído de tamanho. O estresse prolongado libera cortisol e, se você tiver problemas contínuos com esse hormônio, ele pode afetar o volume de algumas áreas do cérebro. Mas os efeitos do chamado cérebro pandêmico vão muito além de um leve comprometimento da memória ou declínio na capacidade de aprendizagem. Há muitos receptores que são sensíveis ao cortisol, por isso várias redes neurais são afetadas, o que se revela em nossas possíveis oscilações de humor frequentes, sentimentos de medo ou incapacidade de concentração, de realizar várias tarefas ao mesmo tempo ou tomar decisões sem hesitação.

Como em tudo, o cérebro pandêmico é mais suscetível em algumas pessoas do que em outras. Aqui, entram em cena a resiliência individual e o nível de estresse a que estamos submetidos; a autogestão do estresse é algo pessoal que nem todos nós alcançamos da mesma forma. O estresse é necessário para que estejamos prontos para agir em determinadas situações, que estejamos em estado de alerta; quando, por exemplo, seu filho está em perigo ou há alguma emergência, é preciso estar preparado para agir. O burnout é um adoecimento pelo estresse crônico; mas o estresse nunca se tornará um burnout se for compensado pelos recursos. É muito importante que tenhamos em mente o quanto é, mais do que nunca, importante investir e priorizar numa rede de recursos, voltada ao bem estar e ao autocuidado. Sabemos que ficamos vulneráveis à fadiga pandêmica por causas psicológicas, mas também que podemos combatê-la através de algumas práticas relacionadas ao bem-estar e ao cuidado pessoal. Abaixo segue algumas possibilidades:

Normalizar o que sentimos. É normal que possamos nos sentir tristes, angustiados ou estressados ultimamente, estes últimos meses estão sendo muito duros para a maioria das pessoas, seja por um motivo ou outro. A sensação de culpabilidade por não estar totalmente bem não ajuda, necessitamos reduzir esse estado de culpa, acolhendo e legitimando a maneira como nos sentimos.

O bem-estar deve ser uma prioridade. Assim como nos cuidamos fisicamente ao colocarmos uma máscara ou cumprirmos os protocolos de segurança, temos que dedicar especial cuidado ao nosso bem-estar interior. Precisamos nos focar no que depende de nós, no aqui e agora, a pandemia nos obriga a viver um presente em estado puro. Não conhecemos o amanhã, então pensemos diariamente naquilo que podemos fazer para nos sentirmos bem hoje, dentro das possibilidades e dos recursos que estão ao nosso alcance.

O autocuidado físico é mais importante que nunca. Precisamos estabelecer rotinas de exercícios, mesmo que simples, desfrutar de uma boa alimentação e, se possível, passear diariamente para tomar um pouco de sol, que é uma das fontes mais importantes de vitamina D.

Precisamos de descanso psicológico. Podemos entrar numa dieta midiática e cortar as notícias que nos fazem mal. Darmos a nós mesmos a permissão para desconectar. A tendência a consumir notícias negativas é tão habitual que já se inventou até um termo para denominá-la: doomscrolling, fusão das palavras doom (apocalipse) e scrolling (rolagem de tela). Trata-se de um estado no qual podemos cair inconscientemente. Nosso bem-estar deve ser um objetivo prioritário, por isso pode ser um bom momento para nos desconectarmos ou termos um consumo mais  limitado de certas redes sociais ou de programas de televisão que nos esgotam ou nos irritam. 

Por último, para rebater a fadiga, está em nossas mãos realizar atividades que nos recarreguem de energia positiva. Podemos recuperar hobbies, ler, jogar, rir e, mesmo que de maneira virtual, compartilhar um tempo agradável com nossos amigos e com nossos familiares.

Gabriela de Faria Rondão | Psicóloga Clínica