Alterações na rotina, medo do vírus e incertezas em relação ao controle da situação podem ter impacto na saúde mental, particularmente nos transtornos de ansiedade e de humor, de todas as pessoas no nosso país. A pandemia da Covid-19 mudou drasticamente e abruptamente a rotina da maioria das pessoas; mudanças na rotina de trabalho (para quem mudou para o modo remoto), interrupção de atividades sociais, distanciamento social, dentre outros fatores, contribuem muito para o crescimento atenuante de sintomas de depressão e ansiedade. Mesmo com uma parcela da população (os mais idosos e algumas outras especificidades) já vacinada, a desorganização governamental em relação à condução da pandemia, contribuíram para que novas variantes surgissem e muitos jovens saudáveis fossem acometidos; tal situação é fonte de ainda mais ansiedade e angústia. A falta de perspectiva e a dificuldade em enxergar um horizonte de mais saúde e retomada da “normalidade”, também são fatores de muita angústia, estresse tóxico e ansiedade.
As medidas adotadas ao longo da pandemia foram necessárias para evitarmos um colapso no sistema de saúde, no entanto, o mesmo ocorreu em diversos momentos de picos e houve muita incerteza em relação a uma perspectiva de melhora e/ou de vacinação em massa. Tudo isso, somado ao fato de que, nos dias atuais, somos bombardeados por uma avalanche de informações (com ou sem nenhum embasamento científico), com cargas e densidades muito difíceis de serem assimiladas e digeridas: o sujeito que entra em colapso! É muito importante que possamos delimitar o acesso a essas informações, podendo escolher melhor quando e onde buscaremos informações, e se as fontes das mesmas são confiáveis e seguras.
Muitos fatores estressores são, comprovadamente, desencadeantes de transtornos de ansiedade. O estresse, associado a outros fatores – como risco de doenças, problemas econômicos, confinamento, abuso de álcool e drogas, solidão – funciona como estímulo ao sistema nervoso central, que pode não reagir adequadamente e desencadear, principalmente, sintomas de depressão e de ansiedade. A solidão é um forte agravante, que contribui muito para sintomas depressivos e abuso de substâncias, portanto, o momento talvez seja de resgatar alguns momentos de encontro em família, com toda cautela e cuidados tomados, principalmente com os mais idosos.
Podemos sistematizar algumas maneiras de enfrentar a ansiedade associada à pandemia, bem como, a inevitável volta gradual às antigas rotinas:
- Evite a automedicação e o uso exagerado de ansiolíticos;
Usar medicações sem acompanhamento pode ter efeitos cruciais na saúde mental e física do sujeito, muito importante que haja acompanhamento para controle de dosagem e para decisões acerca de interrupções.
- Tente entender o que você pode e o que não pode controlar;
Durante a pandemia é muito frequente a sensação de perda de controle sobre a própria vida, o que gera muita angústia e desconforto. Procure entender e delimitar o que está ao seu controle neste momento, e o que foge dele é importante aceitar.
- Perceba no que a sua situação se difere da condição dos outros;
Se você tem mais de 60 anos, por exemplo e problemas respiratórios, muito provavelmente sofrerá mais restrições que os demais que te cercam, o trabalho gira em torno da aceitação nestes casos.
- Dedique-se a atividades gratificantes e prazerosas;
Brinque com seu filho, ouça e dance música, toque instrumentos, faça exercícios (que sejam possíveis) e que sejam prazerosos, tenha contato com animais de estimação, cultive plantas, pratique yoga e meditação (se encontrar prazer nestas práticas), se alongue, pinte, leia livros e notícias sobre outros assuntos, assista filmes…
- Não se isole;
A regra fala sobre distanciamento social, não isolamento, portanto busque maneiras de cultivar e se manter próximo de suas relações afetivas.
- Respeite o ritmo de sua retomada;
Ainda que shoppings e restaurantes estejam abertos, vai sentindo em quais ambientes e situações sente-se confortável ou não. Respeite seu ritmo e não tenha receio em negar convites que não te deixem confortáveis no momento; exponha-se gradualmente às atividades.
- Preocupar-se é normal;
Entender e aceitar que o cenário contribui para momentos de preocupação e ansiedade, nos ajuda a poder vivenciá-los de maneira mais íntegra. Procure trabalhar estas preocupações de maneira mais saudável, escrever e/ou falar sobre elas, pode ajudar a dar mais clareza e contorno.
- Evite o consumo de álcool em excesso e de drogas recreativas;
No cenário de isolamento é muito comum as pessoas recorrerem ao uso de álcool ou substâncias ilícitas, no entanto, o mesmo pode perder o controle muito mais facilmente neste momento, gerando mais ansiedade, ataques de pânico e outros sintomas psiquiátricos. E ainda, o uso abusivo pode acarretar em prejuízos cerebrais que se desdobram para além da pandemia.
- Mantenha bons hábitos de sono e higiene alimentar;
Mesmo com tantas preocupações é muito importante que encontremos maneiras de manter a qualidade e a rotina do nosso sono, evitar telas e muitos estímulos à noite podem ajudar; procurar estabelecer uma rotina de horários, para dormir e acordar, também. Manter uma alimentação balanceada e saudável, é também fundamental para se estabelecer um cenário de mais saúde física e mental.
fonte: Guia de Saude Mental pós-pandemia no Brasil, da Pfizer.
Gabriela de Faria Rondão | Psicóloga Clínica