Que a gente se sinta estressado ou cansado no ambiente de trabalho, é algo comum e compartilhado entre a maioria das pessoas, em determinada fase, momento e/ou ambiente profissional. No entanto, é muito importante que saibamos identificar quando isso se prolonga, a ponto de interferir negativamente em todas as camadas da vida de um indivíduo.
A Síndrome de Burnout, como é conhecida, é uma síndrome de Esgotamento Profissional, na qual o indivíduo encontra-se esgotado física e emocionalmente, em decorrência de estresses e sobrecargas advindas do ambiente de trabalho. O distúrbio foi mencionado na literatura médica pela primeira vez em 1974, pelo psicólogo norte-americano Freudenberger que descreveu os sintomas que ele e seus colegas estavam enfrentando; após essa menção, vários estudos foram realizados sobre o assunto e se ampliou muito o conhecimento a respeito dos sintomas e tratamentos para pessoas acometidas por esta síndrome. Hoje em dia é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como uma doença ocupacional, um distúrbio psíquico encontrado na CID-10 (Classificação Estatística e Internacional de Doença e Problemas Relacionados à Saúde). Segundo pesquisas realizadas pela Isma-BR (International Stress Management Association no Brasil), essa síndrome acomete cerca de 33 milhões de brasileiros.
A origem da palavra “burnout” é norte-americana e significa “queima, combustão completa, esgotamento” e é traduzida livremente como ‘fogo descontrolado’. Geralmente neste funcionamento a relação com o trabalho acaba se transformando em estresse, ansiedade e nervosismo extremos, levando a pessoa a um estado de estafa e esgotamento físico e, principalmente, emocional e é muito comum que existam outras comorbidades envolvidas nesta síndrome, tais como depressão e ansiedade.
Segundo Azevedo (2004, p.49) “O estresse no trabalho é cada vez mais comum e hoje já é um dos principais motivos de licença para tratamentos de saúde”. É um construto formado por três dimensões relacionadas, mas independentes: (a) exaustão emocional: caracterizada pela falta de energia e entusiasmo, sensação de esgotamento nos recursos que pode somar-se ao sentimento de frustração e tensão dos trabalhadores (por perceberem que não possuem mais condições de despender energia alguma para as demandas dos seus clientes ou demais pessoas como faziam antes); (b) despersonalização: caracterizada pelo desenvolvimento de uma insensibilidade emocional, que faz com que o profissional trate os clientes, colegas e organização de maneira desumanizada; (c) diminuição da realização pessoal no trabalho: caracterizada por uma tendência do trabalhador em se autoavaliar de maneira negativa, tornando-se frustrado sempre com seu desenvolvimento profissional, com conseqüente declínio no seu sentimento de competência e êxito, bem como em sua capacidade de interagir com os demais. Embora a atenção esteja voltada aos sintomas psíquicos relacionados à ocupação do trabalhador, alguns sintomas físicos são comuns como: a exaustão física, insônia, úlcera, dores de cabeça, hipertensão, uso de álcool em excesso, entre outros.
De acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS, 1998 apud TRIGO et.al., 2007) e os autores Limongi França & Rodrigues (2002), os principais fatores associados à Síndrome de Burnout, podem ser tanto da ordem individual quanto institucional; a síndrome de burnout pode ser compreendida como um transtorno mental, devido as consequências emocionais, psíquicas, somáticas e dos afastamentos sociais e do trabalho. A definição de transtorno mental que é apresentada no DSM-5 (2014) traz que:
‘Um transtorno mental é uma síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. Transtornos mentais estão frequentemente associados a sofrimento ou incapacidade significativos que afetam atividades sociais, profissionais ou outras atividades importantes.’(p. 20)
É preciso um olhar atento do individuo ou dos que o cercam para que se identifique o quanto antes os sintomas desta síndrome e para que se busque ajuda especializada; um psicólogo ou um psiquiatra estão preparados para estudar o histórico do paciente e avaliar um caminho para que se alcance um bem-estar efetivo.
Algumas atividades simples podem aumentar sua resiliência ou prevenção para este transtorno:
- Fazer alguma atividade física regularmente;
- Quebrar a rotina com passeios ou outras atividades relaxantes e inusitadas;
- Procurar se afastar/blindar na medida do possível de pessoas muito negativas e/ou tóxicas no ambiente de trabalho;
- Alterar a sua dinâmica de trabalho, de modo a priorizar o que realmente importa;
- Evitar o uso de drogas lícitas e ilícitas, como bebidas e tabaco;
- Priorizar o bem-estar e o lazer.
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Gabriela de Faria Rondão | Psicóloga Clínica